O nome Tomé tem origem aramaica e quer dizer gêmeo. No evangelho de João ele é também chamado de Dídimo, a versão grega para o mesmo termo. Isso não quer dizer, porém, que ele tivesse um parentesco do tipo. Em Latim temos Thomas. Assim Tomás é uma variante de Tomé.

Culturalmente Tomé ficou estigmatizado como aquele que duvidou. A arte inspirada nos relatos e no catecismo se encarregou de espalhar esta marca. Mas é ele o grande propagador da verdade vista por seus olhos e tocada por suas mãos. No belíssimo quadro de Caravaggio (1571-1610) podemos apreciar o que deve ter sido a impressionante cena, na qual Tomé ao ver o ressuscitado diante de si exclamou: Meu Senhor e meu Deus!  (Jo 20, 28). É este termo que costumamos dizer para expressar nossa fé no Deus vivo, pois diferente de Tomé nós cremos sem o vê-lo.

São poucos os relatos bíblicos sobre os apóstolos após a ressurreição, a não ser o livro inteiro dos Atos dos Apóstolos, as cartas paulinas e as ditas cartas católicas. Outras fontes são os escritos apócrifos, mesmo que com algumas ressalvas, e a tradição. Sobre Tomé há indícios de sua presença na Etiópia, na Pérsia (atual Irã), na Índia e até mesmo na China. Por onde passou realizou prodigiosos milagres. Neste percurso evangelizador, se deteve por mais tempo e de forma mais profunda na Índia, sendo aí assassinado a mando de um rei local no ano 53 d.C. Mas este é apenas um dos relatos. Há hipóteses de que ele tenha sido martirizado em Edessa, na Turquia.

Os cristãos indianos são também chamados de cristãos de São Tomé. É possível que a liturgia malabar – indiana – tenha sua origem na pregação e oração de São Tomé. Suas relíquias podem ser veneradas em uma suntuosa catedral em Chennai, com grandiosa festa celebrada em 3 de julho, dia do santo.

Curiosamente São Tomé também faz parte da história dos primórdios do Brasil, sendo sua figura utilizada na evangelização, não necessariamente para sua devoção, mas por se acreditar que o apóstolo já tenha estado por aqui.

Trata-se, obviamente de uma lenda. Os colonizadores quando aqui aportaram ouviram dos próprios indígenas histórias referentes a um homem de tez branca e barbas compridas, vestido com uma túnica, que há muito tempo tinha lhes ensinado sobre a lavoura, e uma doutrina para eles diferentes, e que se assemelhava com a que agora ouviam dos portugueses. O nome deste sábio era Zumé ou Sumé. Pela semelhança fonética os colonizadores o associaram com Tomé.

Para se ter ideia, a crença na presença de São Tomé no Brasil se tornou tão forte entre os colonos que o Jesuíta Padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) e até mesmo o maior orador da Língua Portuguesa, Padre Antônio Viera (1608-1697), também jesuíta, se utilizaram da narrativa.

A lenda de São Tomé é bem antiga e deriva de apócrifos bíblicos sobre sua pessoa, seus milagres e martírio na Índia. Com o passar do tempo a estas histórias foram acrescentadas outras, tornando-se muito populares na Idade Média. Outra figura mitológica foi o Preste João, que em algumas das histórias era São Tomé, o qual governava um grandioso reino em terras distantes. As lendas foram ganhando tanta força que já na Era das Navegações, muitos desejavam encontrar o reino do Preste João/São Tomé, que por milagre ainda estaria vivo.

Ao aportarem por aqui e ouvir as histórias do Sábio Sumé, associaram a figura a São Tomé.

Dos supostos ensinamentos que dele os índios receberam estão a crença num Deus Uno, devendo a este servir e não ao demônio, condenou o canibalismo e a bigamia/poligamia. Os índios que cultivavam esta tradição ensinada por Sumé, identificaram-na com os ensinamentos cristãos e as acolheram. Além disso, se constatou a presença de cruzes, sinal que alguns indígenas já conheciam.

Os índios contaram também que Sumé os avisou que a doutrina que ele pregava iria sumir por um tempo, mas, que depois viriam seus sucessores e continuariam seu trabalho, devendo os ensinamentos serem transmitidos de geração a geração para que não se perdessem, até a vinda destes sucessores.

Se São Tomé esteve ou não por aqui, isso não importa. O que importa é a remota possibilidade de um cristão ter aqui estado bem antes do século 16 a ensinar as verdades eternas. Será?

 

 

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