As grandes datas do Calendário Litúrgico são comemoradas não apenas em um único dia, mas estendidas por mais uma semana, chamada de oitava, ou seja, oito dias depois do dia festivo. É uma herança que remete à antiguidade, de modo especial às festas judaicas. Desta maneira, temos a oitava da Páscoa e a oitava do Natal, esta última ocorre entre os dias 25 de dezembro e 1º de janeiro.

No passado existiram outras oitavas, como a de Pentecostes e a de Corpus Christi, só para mencionar algumas. Estas foram suprimidas pelo reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, embora a redução de algumas oitavas já tenham ocorrido no século 16 por ordem do Papa Pio V.

A oitava do Natal dura quase todo o Tempo do Natal, já que é o período mais curto do Calendário Litúrgico, durando da Véspera do Natal até o domingo após a Epifania, no qual se celebra o Batismo de Jesus. Chama-se oitava por constituir 7+1=8. São os sete dias da semana ordinária, mas o dia que se espera estar eternamente diante de Deus, o dia sem ocaso. Como somos peregrinos neste mundo, nosso objetivo é o próprio Deus. Como Ele nasce no dia 25 de dezembro, nos alegramos por Ele ser Deus-conosco. Esta alegria é tão intensa que estendemos a celebração com uma festividade contínua. Algumas celebrações de santos foram incorporadas à oitava do Natal. Algumas já eram celebradas nas suas datas quando a Solenidade do Natal passou a ser celebrada em 25 de dezembro. Mas há de se dizer que, embora estas celebrações ocorram durante a oitava do Natal, são festas secundárias. O centro deve ser sempre o Cristo. Desta maneira, tais celebrações acabam por ajudar ainda mais a adentrar no mistério da encarnação do Salvador. É o que ocorre no dia 26 com a Festa de Santo Estevão, o primeiro mártir da Igreja. Ele foi apedrejado em Jerusalém por acreditar no Cristo e levar sua mensagem. Sua festa na oitava nos lembra que também nós seremos perseguidos por causa do Menino que acabou de nascer. Ele é luz, mas terão alguns que permanecerão nas trevas. Já o dia seguinte, é a Festa do Evangelista João, que também era apóstolo. Ele é o único dos mais íntimos discípulos de Jesus que não foi martirizado, morrendo de velhice na Grécia. No dia 28 de dezembro se celebra o dia dos Santos Inocentes. Trata-se daquelas criancinhas menores de dois anos que o malvado rei Herodes mandou executar, querendo com isso que também Jesus pudesse ser exterminado na ocasião. Como bem nos informa os relatos bíblicos, José após o alerta do anjo, foge com a criança e sua esposa para o Egito, retornando à sua terra anos depois, quando não havia mais perigo. Estas crianças de número desconhecido são os santos inocentes que perderam sua vida por causa do Cristo, que para eles é o seu salvador.

No domingo seguinte ao dia de Natal, foi introduzida um pouco recentemente, a Festa da Sagrada Família. O pai, a mãe e seu filhinho como exemplo de família, principalmente em nosso tempo em que a família vem sendo ameaçada. A liturgia dá atenção especial aos papeis dos membros da família, o respeito mutuo entre cada um e a memória daqueles que vieram antes de nós. A festa da Sagrada Família na oitava do Natal, nos lembra que o Natal é uma festa da família, do amor que nos une. Muitos de nós não temos pai nem mãe por diversas circunstâncias, e acabamos por ser “adotados” ou “adotamos” uma nova família. É, portanto, também a festa da acolhida. Nós acolhemos Deus em nosso coração e Ele nos acolhe em seus braços.

Já no dia 1º de janeiro, último dia da oitava do Natal, a Igreja celebra a Solenidade de Maria, Mãe de Deus. É ao mesmo tempo, uma conclusão e um início. Nesta celebração recordamos o primeiro dogma mariano, proclamado em 431 no I Concílio de Éfeso. Maria ao dar a luz Jesus, ela torna-se Mãe de Deus, uma vez que Jesus é Deus. Antes de ser Theotokos (Mãe de Deus em grego) Maria é Theodokos (grávida de Deus). É também o dia da paz universal. Cristo nascendo em nosso meio nos oferece sua paz a todas as nações, e esta paz está nos braços de Maria. Ela apresenta-a a nós.

A oitava do Natal é realmente uma semana de profundo significado cristão, um momento oportuno de reflexão sobre o mistério de nossa fé, nossa existência e a missão de Deus para nós, que é amar. Ele nos amou tanto que nos enviou seu Filho para que todos que n’Ele virem a crer, tenham a vida eterna (Jo 3, 16). Este filho, como o Pai, nos amou tanto que se entregou por nós morrendo no madeiro da cruz. Por Ele fomos salvos e ao vê-lo, vimos o Pai, pois Ele e o Pai é um só. Além disso, mesmo voltando para o Pai não nos deixou sozinhos, mas enviou seu Espírito consolador e unificador, que também, junto com o Filho e o Pai é um só.

Olhar para o Menino Jesus na manjedoura ou nos acalentados braços de Maria é ver a esperança e saber que não estamos sozinhos. A alegria é tamanha que queremos comemorar mais que apenas um dia, mas durante toda uma semana. Alegrai-vos! Pois nasceu o Salvador de todos nós.

 

 

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