A Sagrada Escritura é tão importante que há um mês totalmente dedicado a ela, setembro. É uma iniciativa da Igreja Católica no Brasil, que com isso, busca incentivar o estudo, o conhecimento e a meditação da Palavra de Deus. O mês foi escolhido devido no último dia, ser celebrada a memória de São Jerônimo (347-420), o padroeiro dos exegetas, interpretes e estudiosos da Bíblia.

São Jerônimo é um santo dos primórdios da Igreja. Ele viveu entre os séculos 4 e 5. Era muito influente entre os religiosos. Grande estudioso da Bíblia organizou sua primeira tradução para o latim, conhecida como VULGATA. Ele se utilizou da tradução grega da Bíblia, a SEPTUAGINTA, também chamada tradução dos setenta, pois traduzida do hebraico para o grego em Alexandria, no Egito, por setenta sábios, que separados em lugares distintos, apresentaram cada um sua tradução, mostrando todas serem idênticas.

O santo tradutor organizou um mosteiro na Palestina, na Terra Santa, orientando mulheres eruditas na tarefa de tradução, como Santa Paula e Santa Marcela.

Durante muitos séculos a leitura da Bíblia, seu estudo e sua oração ficaram restritos aos letrados, como monges e clérigos. Com o alto índice de analfabetismo na antiguidade e na Idade Média, os religiosos transmitiam os ensinamentos bíblicos aos fiéis durante as pregações. A arte ajudou a impulsinar os principais relatos da Bíblia, através de pinturas e esculturas. A catedral medieval, por exemplo, era constituída de um espaço que pudesse evocar os valores cristãos e a piedade do povo por meio da pregação artística, além da homilia do sacerdote durante a missa e outras celebrações. O templo era assim, uma bíblia ilustrada, onde todos podiam compreender a mensagem sagrada. Temos muitos exemplares das catedrais edificadas na Idade Média que são verdadeiras obras da arte cristã.

Os sermões deveriam ajudar os fieis a se aproximarem de Deus. Os pregadores tinham a necessidade e obrigação de conhecer a Bíblia. Assim, as bibliotecas foram e continuam sendo o templo do saber, o tesouro onde se guarda preciosidades únicas. A Igreja conserva grandes obras também da pregação destes homens e mulheres, como Santo Agostinho, São Bernardo, Santa Hildegard von Bingen, Santo Tomás de Aquino e tantos outros que foram grandes interpretes das Sagradas Escrituras. Liam, estudavam e rezavam com a Bíblia.

Ainda na Idade Média surgiu num mosteiro cartuxo um método de meditação com a Bíblia conhecido como Lectio Divina. Trata-se da forma tradicional e oficial de oração com a Bíblia. Não é um estudo, mas uma meditação pessoal com a Bíblia.

A Lectio Divina é dividida em quatro etapas:

Leitura, que é o contato direto com o texto bíblico;

Meditação, ou seja, reflexão do texto bíblico lido;

Contemplação, que consiste na busca intima e intensa de Deus através do texto bíblico lido;

Por fim, chega-se ao estágio da oração.

As etapas da Lectio Divina é como se fosse um banquinho com quatro pernas que sustentam e equilibram nossa vida em Deus que se manifesta através de sua Palavra.

Para a prática da Lectio Divina pode-se utilizar qualquer texto bíblico, mas é sugerido rezar com os textos da liturgia do dia, pois elas estão unidas textualmente por meio de um tema ou palavra-chave. Isto contribui muito, principalmente porque as sagradas escrituras nos apontam para o Deus Vivo que se dá em comunhão na Eucaristia.

Os santos e santas possuíam grande afeto para com a Bíblia. Ela é uma das fontes principais da mensagem de Deus, que foi inicialmente conservada por meio da tradição oral. Com o tempo, precisou-se registrar esta mesma mensagem a fim de não se alterar ou perder-se. Os primeiros discípulos de Jesus também compreenderam o risco de deturpação das palavras de Jesus, de seus feitos e dos gestos de seus primeiros seguidores. Escreveram, portanto, todos os atos mais importantes dos primórdios, que são os Evangelhos.

Celebrando o mês da Bíblia buscamos conhecer mais intensamente estes relatos. Assim, as paróquias e comunidades organizam estudos sobre algum tema ou livro bíblico, fazendo que amemos mais esta que é fonte da nossa fé, a Bíblia.