Devoção das mais antigas do Brasil é a de Maria sob o título de Nossa Senhora do Ó. As paróquias e capelas espalhadas pelas diversas regiões, e de modo especial nas cidades mais antigas, ela está lá. Até mesmo na maior cidade brasileira, São Paulo, um bairro recebe o seu nome, devido sua principal igreja. Trata-se da Freguesia do Ó, na Zona Oeste.

 

Mas que “Ó” é esse? O que quer dizer?

A devoção, importada de Portugal ainda nos primórdios da colonização, diz respeito às antífonas do Ó, entoadas nos ofícios de vésperas da última semana do Tempo do Advento, a Semana Santa do Natal. Trata-se de exclamações que antecedem o cântico evangélico, Magnificat, sempre iniciados com a letra “O”, como por exemplo, “Ó Sabedoria…” – no dia 17 de dezembro – e “Ó Emanuel…” – no dia 23 de dezembro. Estas antífonas são também chamadas de antífonas maiores, devido a sua importância artístico-literária na liturgia pré-natalina.

Como são sete os dias que antecedem o Natal, são sete as antífonas do Ó, todas com referências bíblicas.

17 de dezembro: Ó Sabedoria que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os confins de todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: oh vinde ensinar-nos o caminho da prudência!” (Eclo24, 3)

18 de dezembro: “Ó Adonai, guia da casa de Israel, que aparecestes a Moisés na sarça ardente e lhe destes vossa lei sobre o Sinai: vinde salvar-nos com o braço poderoso!” (Gn 17, 1)

19 de dezembro: “Ó Raiz de Jessé, ó estandarte, levantado em sinal para as nações! Ante vós se calarão os reis da terra, e as nações implorarão misericórdia: Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!” (Is 11, 10)

20 de dezembro: “Ó Chave de Davi, Cetro da casa de Israel, que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre: vinde logo e libertai o homem prisioneiro, que nas trevas e na sombra da morte, está sentado!” (Is 22, 10-13)

21 de dezembro: “Ó Sol nascente justiceiro, resplendor da Luz eterna: Oh, vinde e iluminai os que jazem entre as trevas e na sombra do pecado e da morte, estão sentados!” (Ml 3, 20)

22 de dezembro: “Ó Rei das nações. Desejado dos povos; ó Pedra angular, que os opostos unis: Ó, vinde e salvai esse homem tão frágil, que um dia criastes do barro da terra!” (Is 28, 16)

23 de dezembro: “Ó Emanuel: Deus-conosco, nosso Rei Legislador, Esperança das nações e dos povos Salvador; Vinde, enfim, para salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!” (Is 7, 14)

 

Em mosteiros, catedrais, basílicas… solene e belamente são as antífonas do Ó entoadas. De maneira particular, nos mosteiros, são elas cantadas na melodia do canto gregoriano, como uma tradição de séculos.

São das antífonas do Ó que surgiu a devoção a Maria invocada sob o título de Nossa Senhora do Ó, que representa Maria como uma mulher grávida, prestes a dar à luz. A espera está no fim, (24 de dezembro) nascerá o Salvador. Acompanhando sua espera atenta, como Maria, os cristãos se reúnem com entusiasmo para o bradar de glória da noite santa juntos a uma miríade de anjos. Corremos ao supermercado para comprar os ingredientes especiais para a ceia, quando a família reunida canta “Noite Feliz” diante do presépio, no qual a frágil criança é o centro das atenções. Mesmo sem falar nada, ela diz tudo. Ele é Sabedoria, é Senhor, é a Raiz de Jessé, a Chave de Davi, o Sol nascente, o Rei das nações… É Emanuel, Deus-conosco.

 

Como sugestão de leitura para aprofundamento do tema, conheça “Antifonas do Ó: um tesouro da Liturgia do Advento”, de Jomar Vigneron, publicado pela Paulus Editora.

 

 

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