Do barro somos feitos. Adão e indiretamente Eva, nossos pais, nos legaram esta herança. Todos do barro somos feitos. Deus se revela assim, um artista, que com suas mãos modela o homem e a mulher. Nós repetimos o seu gesto e com o barro criamos utensílios e ferramentas, objetos diversos, formamos imagens representando personagens de importância para nossas vidas. A imagem de Aparecida nos lembra justamente isto.

O barro está, portanto, na origem da formação humana, no seu desenvolvimento e vai além, está também no seu encerramento, como resultado da criatividade divina.

A canção diz que nos contentamos apenas em olhar o olhar da mãe. Mas se pudermos tocá-la, nós o faremos. Maria se deixa modelar, e nós somos modelados no seu amor. Maria se deixa tocar e nós somos tocados por sua graça transbordante, que vem do próprio Deus.

Terra vem de húmus. É desta palavra que surge humildade. Maria é humilde, Maria nos ensina a sermos também humildes, pois Deus se faz humilde se encarnando e se entregando na cruz para nossa salvação. É Cristo quem nos fala: “Quem se humilha será exaltado.”[1] Deus olhou para a humildade de Maria e a exaltou.[2] Ele olhou para a terra, o barro de que ela é feita.

Na São Paulo dos séculos 16 e 17 o barro foi a principal matéria prima para a confecção de imagens sacras, para a construção das casas, igrejas e outras edificações. Não havia pedras para tal fim. São Paulo, tanto a cidade quanto outras vilas da região, foram construídas com barro. Considerado material pobre, foi o barro o que sustentou a vida e a fé deste povo. E ainda hoje o barro é o símbolo da confiança em Deus a partir da figura de Maria, e não apenas para São Paulo, mas para todo o Brasil, pois Maria é a padroeira da Nação. É ela símbolo de nosso país.

A grandiosa basílica nacional de Aparecida, ainda em construção, mas já em processo de finalização artística, não ignora este dado. Sua fachada de tijolinhos diz que o barro é forte, que o barro é também beleza, que o barro, apesar de sua fragilidade, paradoxalmente é defesa. A basílica é, portanto, a fortaleza do barro, a fortaleza que guarda o maior tesouro que temos, que ao contrário do que muitos imaginam, não é nenhuma joia de ouro ou prata, mas de barro mesmo, a imagem da querida Senhora Aparecida. O templo de barro se ergue majestosamente para a rainha do Brasil.

A imagem (objeto) pode quebrar como aconteceu já uma vez, com a imagem de Aparecida, que, aliás, foi encontrada quebrada. Apesar disso, temos meios de remodelar, reorganizar, recuperar… E o mesmo pode acontecer com nossas próprias vidas. Quando quebradas podem ser refeitas. Com toda certeza, muitos se colocam diante de Maria para se reerguer do sofrimento, das incertezas e das barreiras que se colocam diante de seus caminhos.

Não há em nenhum outro lugar reverencia tamanha para com uma pequena peça em barro, de pouco mais de 30 centímetros. Ela é revestida com manto real e coroa destacando e protegendo o barro cru enegrecido pelo tempo e pelas águas em que um dia esteve imersa. Ela aparece aos olhos, ela traz os peixes na escassez, no desengano, ela traz a luz quando só havia trevas, ela devolve a vista quando a cegueira impedia de vermos sua beleza, ela quebra os grilhões da escravidão, ela dá conforto na aflição, a ela nos dirigimos agradecidos, pois como ela mesma nos lembra: “O poderoso fez em mim maravilhas. Santo é seu nome.”[3]. E ainda: “Doravante todos me chamarão Bem-Aventurada.”[4] Nós estamos nesta multidão que reconhece sua relevância na história da salvação, que escuta a ela que nos remete a seu amado filho Jesus. “Fazei tudo o que Ele vos disser!”.[5] Nós buscamos seguir seus passos, seus mandamentos. Nós repetimos no molde da caridade realizar o maior feito de nossas vidas: o amor ao próximo.

Neste barro que é a imagem de Aparecida está nossa esperança moldada com nossas digitais da fé.

Viva a Mãe de Deus e Nossa! Viva Nossa Senhora Aparecida!

[1] Mt 23, 12. [2] Lc 1, 48. [3] Lc 1, 49.  [4] Lc 1, 48.  [5] Jo 2, 5.

 

 

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