Corpus Christi é uma das festas mais importantes da Igreja e teve sua origem na Idade Média, embora as fontes para a sustentação de sua grandiosidade seja bíblica, instituída pelo próprio Cristo.

As festividades litúrgicas foram pouco a pouco sendo criadas ao longo da história. Algumas delas são o resultado de manifestações locais, que aos poucos foram se espalhando por toda a Igreja, tornando-se uma celebração geral ou universal. Assim foi com a memória pelos fiéis defuntos, hoje comemorada em 2 de novembro. Quem a instituiu foi o abade beneditino do grandioso mosteiro de Cluny, Santo Odilo (961-1049), sendo tal celebração inicialmente rezada apenas nos mosteiros sob sua administração. Da mesma forma a celebração de Corpus Christi foi uma manifestação local.

Celebrada na quinta-feira depois da Solenidade da Santíssima Trindade, a celebração relembra a última ceia, quando Cristo reunido com seus apóstolos se deu como alimento. A celebração da missa, além de ser um sacrifício é também uma refeição. Cristo é o alimento. É o pão da vida. É a videira verdadeira. O pão e o vinho, seu corpo e seu sangue.

Nos primórdios da Igreja, a difusão da consumação do corpo e sangue de Cristo foi incompreensível para muitos, que com isso propagaram a ideia de que os cristãos eram antropófagos. Não entendiam aqueles que difundiam tais ideias nefastas, muitas vezes para confundir as pessoas, do que realmente se tratava. É a comunhão plena de Cristo com sua Igreja. Todos se alimentam d’Ele e fortalecidos com seu amor saem ao mundo alimentando a todos que padecem dos mais diversos males. Os Cristãos desde o início sabiam que “a Eucaristia é o coração; o ápice da vida da Igreja, pois, nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças”. (Catecismo da Igreja Católica §1407)

Há de se dizer que nos primeiros mil anos da História da Igreja não havia um culto específico para com a hóstia consagrada fora da missa. Claro, a reserva eucarística era conservada para a ministração dos sacramentos para com os doentes. Figura singular sobre isto é São Tarcísio, que encarregado de levar a Eucaristia para um preso foi perseguido, zombado e martirizado por ser cristão e acreditar que Jesus estava presente num pedaço de pão. Tornou-se por isso, símbolo do zelo eucarístico e padroeiro dos acólitos, coroinhas e ancilas.

A celebração de Corpus Christi teve grande contribuição de uma religiosa que teve a graça mística de visões singulares. Trata-se de Juliana de Mont Cornillon, (1193-1258), residente numa comunidade da Diocese de Liége, na Bélgica. Naquele mesmo país, agora numa abadia, em 1124, começou-se a cultuar a Eucaristia fora da missa numa exposição extraordinária diante dos fiéis. Outros elementos passaram a ser introduzidos, tanto neste culto, quanto na própria missa, como o soar de sinetas e a incensação.

No século seguinte, o grande baluarte do pensamento cristão, Santo Tomás de Aquino (1225-1274), compôs o poema que desde então, na exposição do Santíssimo Sacramento, passou a ser entoado, o Tantum Ergo Sacramento, que em língua portuguesa cantamos solenemente Tão Sublime Sacramento.

Fato extraordinário e deveras importante para o culto à Eucaristia foi o milagre de Bolsena. Diz-se que um sacerdote, durante a celebração da Santa Missa na cripta de Santa Cristina, em Bolsena, Itália, no momento da elevação da hóstia, percebeu que da daquela hóstia começaram a cair gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Segundo se propagou na ocasião, o milagre foi uma resposta ao próprio sacerdote que mantinha em seu intimo a dúvida sobre a presença real de Cristo na Eucaristia. Rapidamente o caso foi se espalhando por todos os lugares, sendo a Solenidade de Corpus Christi introduzida no calendário litúrgico para toda a Igreja em 1264, por ordem do Papa Urbano 4º (1195-1264).

A celebração é soleníssima e após a missa, o sacerdote sai em procissão com os fiéis a segurar o ostensório, instrumento surgido com o intuito de expor a hóstia consagrada.

Símbolo muito ligado à festividade são os imensos tapetes confeccionados com serragem, musgos e pétalas de flores pelas principais ruas em torno da igreja, reconhecendo a dignidade da ocasião, quando Deus caminha pelas nossas cidades, abençoado nossos, lares, nossos trabalhos e nossas vidas.

Cabe aqui lembrar que Carlo Acutis (1991-2006), o jovem beato do novo milênio, foi um entusiasta e grande propagador do culto ao Santíssimo Sacramento, organizando um blog no qual relatava os diversos milagres eucarísticos da História da Igreja.